
Cláudio Manuel Neves Valente foi encontrado sem vida em New Hampshire. Tinha autorização de residência permanente nos EUA
As autoridades norte-americanas anunciaram esta sexta-feira que o principal suspeito do homicídio do físico português Nuno Loureiro, professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), e do tiroteio ocorrido na Universidade Brown, em Rhode Island, é um cidadão português que foi entretanto encontrado morto.
“O indivíduo foi identificado como Cláudio Manuel Neves Valente, de 48 anos. Foi aluno da Universidade Brown, tem nacionalidade portuguesa e a última morada conhecida era em Miami”, afirmou um porta-voz da polícia de Rhode Island.
O ataque no campus da Universidade Brown, ocorrido no sábado, provocou a morte de dois estudantes e feriu outras nove pessoas. Segundo a polícia, não há indicação de que o suspeito conhecesse as vítimas do tiroteio.
A investigação mudou de rumo depois de uma pessoa com informação relevante se ter apresentado voluntariamente à polícia, após a divulgação pública de imagens do suspeito.
A principal pista que permitiu às autoridades ligar o ataque em Brown ao homicídio de Nuno Loureiro foi uma viatura alugada por Cláudio Neves Valente em Boston. O automóvel foi identificado através de registos e imagens de videovigilância, tendo sido visto nas imediações do campus universitário nos dias que antecederam o tiroteio e, mais tarde, perto da residência do professor do MIT, em Brookline. No interior do veículo, os investigadores encontraram elementos que coincidem com o que foi recolhido no local do ataque, segundo as autoridades.
Após o ataque, o suspeito conseguiu escapar às autoridades durante vários dias e tentou iludir a polícia mudando as matrículas da viatura, tendo sido identificadas placas de diferentes estados norte-americanos no mesmo automóvel.
Na segunda-feira à noite, já em Brookline, matou a tiro Nuno Loureiro, de 47 anos, no seu apartamento. A vítima acabou por morrer no hospital na madrugada de terça-feira.
Cláudio Neves Valente foi encontrado morto na madrugada de quinta-feira dentro de uma unidade de armazenamento que tinha alugado em Salem, no estado de New Hampshire. O chefe da polícia de Providence confirmou em conferência de imprensa que o suspeito morreu devido a um ferimento de bala autoinfligido e que, de acordo com a investigação, terá agido sozinho. Tinha consigo uma mochila e duas armas de fogo.
Os investigadores consideram-no, para já, o único suspeito dos dois crimes, mantendo-se em aberto a investigação quanto às motivações.
Reação de Donald Trump
Donald Trump ordenou a suspensão do programa de vistos por sorteio depois de se saber que o cidadão português suspeito do homicídio de Nuno Loureiro entrou nos Estados Unidos ao abrigo desse mecanismo.
Quem era Cláudio Neves?
Natural de Torres Novas, Cláudio Neves estudou no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, onde foi monitor, com contrato administrativo de provimento, até 29 de fevereiro de 2000, segundo o Diário da República. Depois disso, rumou aos Estados Unidos.
Entre o outono de 2000 e a primavera de 2001, frequentou a Universidade Brown, onde foi admitido num mestrado em Física. Pediu licença em abril de 2001 e acabou por anular a matrícula em 2003.
Entrou nos Estados Unidos com um visto de estudante e obteve autorização de residência permanente (“green card”) em setembro de 2017, segundo as autoridades federais.
Era considerado bom aluno e participou nas Olimpíadas de Física quando frequentava a Escola Secundária Maria Lamas, em Torres Novas.
Quem eram as vítimas?
Nuno Loureiro era um físico de renome internacional na área da fusão nuclear. Professor no MIT desde 2016, foi nomeado em 2024 diretor do Centro de Ciência do Plasma e Fusão, uma das unidades de investigação mais prestigiadas do instituto, dedicada ao desenvolvimento de tecnologias de energia limpa.
Os investigadores admitem a possibilidade de uma relação prévia entre o suspeito e a vítima, uma vez que ambos frequentaram o mesmo curso no Instituto Superior Técnico, embora a natureza dessa ligação não tenha sido esclarecida.
As duas vítimas mortais do ataque na Universidade Brown foram identificadas como Ella Cook, estudante do segundo ano, natural do Alabama, e Mukhammad-Aziz Umurzokov, estudante do primeiro ano, de nacionalidade uzbeque.
Segundo familiares, Cook era vice-presidente do núcleo dos College Republicans na universidade, enquanto Umurzokov ambicionava seguir carreira em Neurocirurgia.